Conheci o Mateus, um homeless fofo pra caramba, morando em uma praça pertinho por onde costumo passear com meu cão. Logo, caí de compaixão por esse mendigo de rua com a cara mais simpática do mundo. De olhos castanhos meigos, me presenteou com um vasto sorriso, porém vazio pela ausência de dentes, bem ao estilo de uma criança banguela e, assim, iniciamos nosso relacionamento.
Nessa época, alguns poucos anos atrás, Mateus carregava sua casa nas costas em um grande saco de lixo. Não parecia ter muita coisa, mas deduzo que, para ele, seria seus pertences mais preciosos.
Fiquei um tempo fora de giro e quando voltei, qual minha surpresa: esse jovem senhor já havia conseguido uma maleta velha sem rodinhas e fez dela sua casa ambulante.
Um tempo depois avistei o dito cujo andando, de um lado para outro, atento às lixeiras, acondicionando suas coletas em um carrinho de mercado meio capenga. Certamente havia conquistado algo a mais e seu rosto estava radiante de pura felicidade. Ele me confidenciou estar morando num cantinho aberto em um posto de lavagem para carros e, em troca de moradia, limpava o lugar pela manhã cedinho.
Mateus continuou me surpreendendo positivamente pela sua força de trabalho. Topei com ele em meados de 2018 e concluí que, além de ter conseguido um upgrade em sua vida, estava mais elegante (magro). No entanto acredito que, para ele, a pança era uma espécie de status entre a categoria, pois não ficou tão feliz assim quando eu elogiei sua esbelteza. Nesse período carregava uma carroça lotada de papelão, garrafas, jornais e afins. Também me chamou atenção uma doce fêmea canina que ele cuidava e tratava com apreço de um pai – É a única coisa que tenho, disse ele, minha única propriedade!
Durante essa sequencia de eventos fomos nos conhecendo. Quando passava de carro por ele, sempre fazia questão de chamar para cumprimentá-lo e era premiada por um sorriso faceiro de quem está feliz e contente da vida.
Conversei com meu marido, que é construtor, sobre a possibilidade de ele trabalhar nas obras e vibrei quando me respondeu um redondo sim! Ficou a cargo de meu genro providenciar desde certidão de nascimento, carteira de identidade e carteira de trabalho. Uma tarefa bastante trabalhosa e demorada já que Mateus não sabia nem a data exata de quando chegou ao mundo, apenas o nome de uma cidadezinha nos confins do interior, onde havia nascido.
Deu certo. Mateus hoje tem trabalho, uma quentinha bem gostosa todos os dias e nas suas folgas ainda cuida do estacionamento de uma igreja na redondeza, o que lhe dá uma grana extra para comprar mais alimentos para seus filhotes caninos, sua grande paixão.
Eu arrisco afirmar que Mateus tem, em seus cinco primeiros talentos, ADAPTABILIDADE – que lhe permite flutuar, em meio do caos, de um lugar para outro com grande facilidade, REALIZAÇÃO – habilidade que se manifesta através de sua força de trabalho, ele é um dos melhores e mais rápidos serventes da obra, POSITIVO – conseguiu, apesar de todos seus pesares, encontrar alegria e compartilhar com os outros, ESTRATÉGICO – encontrou alternativas e saídas para suas próprias dificuldades e RELACIONAMENTO – traça relações genuínas com quem encontra e agora com os colegas de trabalho.
Esta é a verdadeira e inspiradora história de um ex-morador de rua, o Mateus.
Maria Helena Rodrigues
Treinamento em Gestão e Liderança
Análise de DNA Pessoal e corporativo
コメント